Quem deixa de existir, não desaparece. Permanece onde sempre esteve. Torna-se é invisível à existência visual. Olha por nós, que nós olhamos pela avó. 92 primaveras: 67 de casado, filho, irmão, namorado, marido, pai, avô, bisavô. Por vezes a linha que separa a vida da morte, é deveras ténue. Tanto pode tomar os contornos de uma amável passagem fronteiriça, como uma penosa jornada. Foste um guerreiro até ao fim, eras dos duros, mas partiste envolto numa paz indolor. Sobreviveste a tempos árduos e intempéries ruins. Construíste a vida a pulso. Não te preocupes comigo, porque por mais ferido que esteja, sou um leão, dou sempre a volta por cima. Sei viver com pouco, satisfaço-me com coisas simples. É nos pormenores de pequenos gestos que me fortaleço. O meu coração é do tamanho do sol. Nada me apagará o brilho no reino. Ensinaste-me a nadar, a ter bondade com os desconhecidos. Recordo as conversas sobre as miúdas, as confissões de reguila. Ofereceste-me conselhos sábios. Apesar de o mundo ser outro, sabias o que era imutável. Foste um herói de causas nobres. Caminhaste sempre devotamente com a fé. Para além do fim, moram os nossos segredos secretos. Iremos visitar-te no teu silêncio e falaremos das novidades, porque estarás sempre nos nossos corações. É a lei da vida, ela continua, porque o tempo escassa. Amanhã será um novo dia, com um novo recomeço. Até sempre vovô.
Obrigado!!
