SONIAL

Passei estes últimos anos a tentar viver uma bonita mentira. Eu pensava que ela não sabia das minhas traições. Ela era tão incrível que se manteve sempre a meu lado, sem nunca dar sinal de o saber. Sentia-me indestrutível e fui avançando. Quando a encruzilhada de relações chegou a um beco sem saída, o esquema explodiu. Após lhe pedir uma segunda oportunidade, ela mergulhada em lágrimas, relatou-me tudo. Disse-me que já o tinha feito imensas vezes em segredo, que seria o fim. Vivemos tempos de relações de faz de conta. O amor puro eclipsou-se. Só se sente amor próprio, amor besta, amor traidor, amor de aluguer, amor de conveniência, amor social. Onde mora o amor pelo próximo? Esta modernidade é metade do passado. Será possível recuperarmos o que perdemos?