SELVAGEM

Acordo com um misto de satisfação e de vazio interior, desperto numa cama que não me pertence, observo um corpo do qual só conheço o rosto à umas horas, uma partilha que sucedeu espontaneamente, não sei quem seremos, só sei o que fomos numa tarefa a dois, apetece-me partir, mas ela sorri e pede-me para ficar, invento afazeres e lanço o olhar para longe, gosto do que se passou ali, mas não gosto de me apegar a ninguém primariamente sem antes estudar a sua mente, ela desconfia, beijos finais foram dois, acenares de cabeça e polegares outros dois, parto sem deixar lembrança, elimino o rasto da estadia, paro e penso em outra pessoa ausente mas sempre presente na minha mente, uma outra face colorida que é a minha vida, os escritores nunca estão sozinhos, estão sempre acompanhado da solidão, não escrevem mas descrevem, não vivem mas sobrevivem, não reclamam mas declamam, não sei explicar o que senti a primeira vez em que te vi, mais cedo ou mais tarde irás perceber que não se promete aquilo que não se pode dar, sigo viagem confiante, noite e dia vivo mais um dia que mais parece uma semana, conto os dias para te ver, tu és bandida, atiras-te a flecha do cupido na minha emoção, acertas-te bem na minha direcção, na ligação do fundo do meu coração, estou preso na tua mão, estou na cadeia da paixão, sempre que te vejo que desejo o eterno beijo, porque é que continuas a gostar de mim se nem sempre te dei o devido trato, porque eu sei quem tu és no teu real e no teu melhor retracto, eu conheço-te ao pormenor de facto, por querer mais do que a vida me pode oferecer, nunca fico satisfeito com a conquista actual, preciso sempre de outro rasto sentimental, uma cor nova a explorar, sou incompleto sem ti, és parte essencial de mim, gosto de ti nas noites que passo sem ti, vivo um amor selvagem, mulher é bom demais, mas um bicho de selva muito esquisito e difícil de perceber os sinais!!